quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Nas tardes onde deito ao pé de mim mesmo
É porque o pensamento é de bugre
E chove dentro dos vasilhames que ficam jogados no fundo do quintal.
No muro de casa existem três camadas de gente,
Meu vizinho disse que de noite é possível catar conversas pela parede,
Que o barro serve para umedecê-las e tratar da pose de lagartixa,
Quando não há visita fico besta de conversar com os grilos
E ouvir de seus “cri-cri-cris” uma verdade única,
Como uma criança que alcança os olhos de alguém com apenas um sorriso,
Agora chove fino no telhado de barro que resiste lentamente ao Sol,
Na biqueira das telhas tem uma sabedoria de moleque
Que quando molha, não há que se fazer nada se não deixar-se.
Dentro de casa é assim, as paredes se comunicam entre o teto e o chão,
Minha casa não parece saber ser igual às outras,
É de chover dentro, de guardar ninhos, de amadurecer aranhas,
É pequena para o necessário, confortável para o convívio,
E é tão bem feita que basta eu morar nela.

Diego Rocha do livreto “Andrajos”
17/02/2010

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Chuveu tanto ontem
que até brotou sapos e rãs e gias
Por enre os dedos dos pés de Abutiram
E passaram a viver lá com tal verdade
que se deu por ficar resolvido o assunto,
Abutiram parecia ter tino para coisas desinventadas,
de torto suas ideias cabiam no bolso,
Tinha vicio de catar esquecimentos,
Andava sempre de descaso
E nunca reclamava de ter que abrir o dia com a ponta da enchada.
Até que Abutiram passou de homem a vegetal com tal destreza só para namorar as borboletas.

Diego Rocha
05/10/2010